Conversar com pessoas cultas é um alívio — quase uma terapia. Elas elevam o nível da conversa, instigam reflexões e transformam temas triviais em diálogos proveitosos. E como seria bom encontrar mais gente assim no dia a dia. Porque, sejamos honestos: está cada vez mais difícil conviver com tanta superficialidade.
Vivemos tempos de opiniões rasas, certezas absolutas e ideologias vomitadas sem filtro, sem estudo e sem reflexão. Não me incomoda que as pessoas pensem diferente de mim. O que me incomoda é o desinteresse em revisar as próprias convicções. Quando foi a última vez que você questionou no que acredita? Que revisitou seus conceitos? Que pensou: “Será que estou certo?”
A liberdade de expressão é uma conquista democrática. Mas ela não é — e nunca foi — sinônimo de liberdade para espalhar mentiras. Ainda assim, vemos crescer a quantidade de pessoas que compartilham qualquer coisa que aparece nas redes sociais, sem nem se dar ao trabalho de checar a fonte. Até colegas de profissão — jornalistas, sim — atuam como propagadores de desinformação, transformando seus perfis em fábricas de fake news.
A desinformação se tornou parte do cotidiano. Contamina diálogos, destrói reputações, manipula massas. E pior: cria um ambiente de discussão onde a ignorância é tratada como argumento. Gente que repete frases de efeito sem entender o contexto, que defende ideias apenas porque “parecem certas” ou porque “alguém que eu sigo falou”. Isso é perigoso.
E não, a educação brasileira não é uma máquina de doutrinação ideológica. Dizer isso é, mais uma vez, ignorar a realidade e repetir discursos prontos. Educação liberta, provoca, questiona. É justamente o oposto do que fazem essas bolhas digitais que alimentam fanatismos e certezas absolutas.
Talvez o problema não esteja nas ideologias em si, mas na forma rasa como muitas pessoas as abraçam. Ideologias existem para organizar o pensamento, mas hoje servem mais para separar do que para unir. Dividem famílias, amizades, nações. E no fundo, nenhuma ideologia é solução definitiva. São tentativas — algumas boas, outras ruins — de lidar com os problemas de um mundo imperfeito.
Enquanto isso, seguimos nesse cotidiano insuportável. Cheio de barulho, desinformação e arrogância travestida de opinião. E talvez o único antídoto seja mesmo a curiosidade. A vontade de aprender, de duvidar, de buscar fontes confiáveis e fugir do senso comum. É só com conhecimento que se constrói algo diferente. O resto… é ruído.