A sociedade ainda romantiza demais a figura paterna, como se o simples ato de estar presente fosse sinônimo de ser pai. Mas presença sem vínculo, sem escuta e sem afeto é só uma forma polida de abandono.
A figura paterna ausente não se mede por quilômetros, mas por silêncio. É o pai que está sob o mesmo teto, mas nunca pergunta como o filho está. É aquele que impõe autoridade, mas não oferece apoio. Que exige respeito, mas não dá exemplo.
Esse modelo ainda é sustentado por uma cultura de masculinidade tóxica que confunde dureza com firmeza, e repressão com cuidado. Muitos homens crescem sem aprender a lidar com sentimentos — e seguem a vida vomitando traumas que nunca processaram.
O resultado são gerações marcadas por uma ausência disfarçada de presença. Lares cheios de ruído, mas vazios de diálogo. Filhos que crescem com o nome do pai no RG, mas sem nenhuma memória emocional real. E quando essa figura finalmente adoece ou morre, sobra um luto confuso, onde o que se chora não é apenas a perda, mas a ausência de tudo que nunca foi vivido.
É hora de encarar o óbvio: ser pai vai muito além de colocar comida na mesa ou sustentar financeiramente uma casa. É preciso romper com o modelo do pai inatingível e começar a discutir o que de fato define uma paternidade saudável — a que orienta, ouve, cuida e transforma.
Paternidade não é um título hereditário. É uma construção. E muitos ainda estão presos no alicerce.